A leitura é uma atividade social que nasce a partir da mediação de um adulto educador, pais e professores, com a criança. Não nascemos leitores; nos tornamos leitores porque esta é uma prática social: nos tornamos leitores por convívio e por contato. Como diz a fonoaudióloga e mestre em psicolingüística pela USP Lucila Pastorelo, “quando uma criança vem ao mundo, seu desafio é ser Humano. Ela pode comer, chorar, dormir, movimentar-se; aos poucos vai reconhecer seu nome, sorrir, falar, tornar-se Humano. Falamos com os bebês para que aprendam a falar; dançamos com os bebês para que aprendam a dançar; sorrimos e dizemos não para que consigam fazê-lo. É preciso ler para crianças pequenas, bem pequenas, sempre. Para que elas possam ler, ter acesso ao mundo e tornarem-se cada vez mais Humanas”.
Segundo dados do INAF o “gosto” pela leitura, em 47%, é influência das mães; 36% dos professores e 24% dos pais. Apesar de ações viabilizadas por governos, iniciativas da sociedade civil e de organizações do terceiro setor, ainda estamos muito longe de ter um cenário de oferta de leituras e de literatura compatível com a necessidade dos brasileiros – agravando o cenário de analfabetismo funcional, que atinge cerca de 60% da população brasileira alfabetizada.
Acreditamos que a experiência de leitura propiciada no berço pode evoluir por um ato de cidadania, de demanda por bibliotecas públicas para todos, amigáveis e integradas em rede, pois são elas o espaço por excelência para abastecer de leituras a sociedade. O perfil do leitor brasileiro que freqüenta bibliotecas está distante do ideal, pois 73% dos brasileiros não freqüentam uma biblioteca - segundo dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pela Câmara Brasileira do Livro. Entre os motivos as dificuldades de acesso estão entre as principais alegações de quem já é leitor, seguida pela falta de dinheiro (18%), falta de bibliotecas (15%) e de livrarias (8%). Apenas 1 em cada 4 estudantes freqüenta bibliotecas públicas municipais. O uso de bibliotecas diminui com o fim da vida escolar: cai de 62% entre adolescentes para menos de 20% na fase adulta; 12% aos 50 anos; até chegar aos 3% acima de 70 anos.
O problema ocasionado por esta baixíssima freqüência é a quebra no convívio com os livros, visto que 89% dos municípios brasileiros não têm livraria e há poucas bibliotecas públicas para abastecer de leituras a população. A pesquisa aponta também que 45% dos leitores chegam até os livros por meio de empréstimos de outras pessoas.
Com o objetivo de criar uma campanha de mobilização para chamar a atenção dos adultos educadores para a importância de oferecer momentos prazerosos de leitura para bebês e para crianças em fase pré-escolar, sugerimos celebrar o Dia da Leitura no dia 12 de outubro, Dia da Criança, data em que desde 1924 a sociedade brasileira celebra a infância,
O Dia da Leitura – que hoje é data oficial no calendário de São Paulo graças à iniciativa do Deputado José Augusto, e em breve estará no calendário nacional como iniciativa do Senador Cristovam Buarque - convida a todos que leiam para bebês e crianças, tendo como marco da campanha o domingo, dia 12 de outubro. A idéia é incentivar nelas o gosto e a vontade de ler, numa iniciativa batizada de Brincar de Ler. Há inúmeras razões para ler com e para as crianças e é preciso iniciá-las desde bebês, seja porque isso contribui para o aumento de vocabulário, seja porque contribui com seu desenvolvimento intelectual. Mais do que isso, ler para elas é um ato de direito e de afeto.
Christine Fontelles