O sem-teto Severino Manoel de Souza nos pegou a todos de surpresa quando em 2006 sua história chegou à mídia. O catador de papel havia inaugurado em setembro de 2005 uma biblioteca com livros encontrados no lixo em um prédio invadido no centro de São Paulo, na Avenida Prestes Maia. Os usuários eram os próprios moradores do prédio, cerca de 1.800 pessoas devidamente cadastradas em um computador doado a Severino. No acervo, entre os mais de 16 mil títulos, Machado de Assis, Érico Veríssimo, Jorge Amado, Gabriel García Márquez e tantos outros. O prédio foi desocupado e Severino ficou sem o seu acervo.

Com a perseverança que só os corajosos têm, o pernambucano nascido no sítio Olho DÁgua Seco montou em Itapecerica da Serra, em São Paulo, uma nova biblioteca que já conta com 4.500 títulos. Para ele, Machado de Assis é o preferido e, durante a entrevista à Revista da Cultura, comentou que neste ano são comemorados os 100 anos da morte do escritor e colocou até uma placa na sua biblioteca lembrando o público sobre a data. Severino diz que aprende muita coisa boa nos livros e gosta especialmente de romance e poesia. E ele é realmente um apaixonado por livros. Para mim, são como uma boa sobremesa. Hoje mesmo, depois do almoço, achei um livrozinho de Camões, sentei na beirada da cama e fiquei lendo.
A história de Severino contraria todas as estatísticas e também os nossos aparentes motivos para não pegarmos um livro para ler. Meus pais nunca leram pra mim ou ainda a professora só dava coisa chata são as principais respostas às perguntas sobre o fato de alguém não ter o hábito da leitura.

Culpas a parte, o que pode ser feito realmente para mudarmos o quadro apresentado nas pesquisas - veja o resultado da mais recente delas no box da página ao lado (*) - e começarmos enfim a desenvolver o gosto pelos livros? Não existe propriamente uma receita. Digo sempre que quem não lê não sabe o que está perdendo, afirma o bibliófilo José Mindlin. Inicialmente, é importante apresentar a leitura como fonte de prazer, e não como obrigação, ressalta. Tanto a família como a escola podem ser instrumentos fundamentais para despertar esse interesse. Colocaria a família em primeiro lugar, mas, na hipótese de esta não ter biblioteca ou interesse pelos livros, passaria essa responsabilidade à escola, onde a tarefa poderia ter condições de ser executada, complementa Mindlin.

Para Pedro Herz, presidente da Livraria Cultura, os pais são os principais responsáveis pelo incentivo à leitura. Antes de adquirir o hábito, os filhos querem imitar os pais. Um bom leitor se faz fundamentalmente em casa, mas toda colaboração através de exemplos é sempre muito útil.

Uma das sugestões de Mindlin para disseminar o gosto pela leitura é que existam muito mais bibliotecas públicas e escolares: Nos Estados Unidos, por exemplo, qualquer cidadezinha tem uma biblioteca circulante que, se não possuir o livro procurado, trata sempre de obtê-lo, diz o bibliófilo. Ter o livro não devia ser condição de leitura. O acesso a estes deve ser feito por bibliotecas públicas e escolares, independentemente dos esforços para estabelecer o contato mais pessoal de crianças e jovens com o livro, explica.
É preciso formar leitores

O Brasil tem hoje cerca de 650 municípios sem nenhuma biblioteca, mas há números que são promissores. Segundo José Castilho Marques Neto, secretário executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura, o PNLL, articulado pelos ministérios da Cultura (MinC) e da Educação (MEC), que reúne um conjunto de projetos, programas, atividades e eventos na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas, há aproximadamente 5 mil bibliotecas públicas, 10 mil comunitárias e quase 55 mil escolares. É um número já expressivo, embora saibamos das imensas deficiências de acervo, instalações etc., diz Castilho. Quanto às livrarias, falta um número ainda maior, conforme o levantamento da ANL, principalmente se pensarmos que o número das 2.600 livrarias existentes cobre cerca de 600 cidades do país, explica o secretário.

Revista da Cultura, ed. 11, jun. 2008.
(*) O texto integral, incluindo dados estatísticos, está disponível no sítio da revista:
www2.livrariacultura.com.brculturanewsrc11index2.asp?page=reportagem01

Fonte: CVL

Categoria pai: Seção - Notícias

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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