Como anda a saúde mental da criança brasileira? Para responder essa pergunta, a Associação Brasileira de Psiquiatria realizou, em parceria com o Ibope, uma pesquisa nacional que estimou a prevalência de sintomas dos transtornos mentais mais comuns na infância e na adolescência (de 6 a 17 anos) e as formas de atendimento mais utilizadas.
Entre 15 e 19 de agosto de 2008, foram realizadas 2002 entrevistas, em 142 municípios de todas as regiões do Brasil. Segundo a pesquisa, 12,6% das mães relataram ter um filho com sintomas de transtorno mental importante ao ponto de necessitar tratamento ou auxílio especializado. O número equivale a cerca de 5 milhões de crianças. Dessas, 28,9% não conseguiram ou não tiveram acesso a atendimento público; 46,7% obtiveram tratamento no SUS e 24,2% através de convênio ou profissional particular.
Segundo a coordenadora da pesquisa, Tatiana Moya, o resultado é preocupante, mas não surpreendente.
- Os dados do Ministério da Saúde mostram que existem apenas 264 unidades de atendimento público (Centros de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil - CAPSI) especializados no atendimento em saúde mental para crianças e adolescentes em todo o país -
Para atender a demanda apontada pelo estudo, cada CAPSI precisaria atender 21 mil pacientes. A capacidade média dos centros, entretanto, é de 240 crianças e adolescentes por ano. De acordo com a localização, a carência de serviços é ainda maior. Em toda a Região Norte, por exemplo, existem apenas seis CAPSI; no Centro-Oeste há 13 centros.
Para Tatiana, especialista em psiquiatria da infância e adolescência, a pesquisa reforça o que os profissionais vivenciam na prática.
-Não temos onde atender, encaminhar e dar assistência. É um cenário triste, pois a falta de tratamento traz conseqüências sérias. Crianças que não conseguem tratamento se desenvolvem mal e se tornam adultos vulneráveis, com dificuldades de manter sua autonomia, estabilidade econômica e cuidados com os filhos, que também ficam mais vulneráveis - alerta.
O presidente da ABP, João Alberto Carvalho, explica a importância da pesquisa.
- Não foi sem propósito que escolhemos este tema. A criança não toca só nosso coração, mas principalmente nosso compromisso ético. Pesquisar a saúde mental da criança é pensar prevenção, educação, informação e combate ao estigma. É ação comunitária, compromisso com o país -
Incidência
A maior parte das crianças e adolescentes apresenta sintomas para mais de um transtorno mental. Mais de 3 milhões (8,7%) têm sinais de hiperatividade ou desatenção; 7,8% possuem dificuldades com leitura, escrita e contas (sintomas que correspondem ao transtorno de aprendizagem), 6,7% têm sintomas de irritabilidade e comportamentos desafiadores e 6,4% apresentam dificuldade de compreensão e atraso em relação a outras crianças da mesma idade.
Sinais importantes de depressão também aparecem em aproximadamente 4,2% das crianças e adolescentes. Na área dos transtornos ansiosos, 5,9% têm ansiedade importante com a separação da figura de apego, 4,2% em situações de exposição social e 3,9% em atividades rotineiras como deveres da escola, o futuro e a saúde dos pais.
Mais de 1 milhão das crianças e adolescentes (2,8%) apresentam problemas significativos com álcool e outras drogas. Esta população parece ter enfrentado uma dificuldade ainda maior para conseguir tratamento. Na área de problemas de conduta, como mentir, brigar, furtar e desrespeitar, 3,4% das crianças apresentam problemas.
A margem de erro da pesquisa é de 2% para a prevalência dos sintomas de transtornos mentais e de 6% para as estimativas de utilização dos serviços de assistência.
(Fonte: JB Online)