Gestores, diretores, professores, coordenadores e todos aqueles compromissados com a qualidade do ensino público no Brasil.
Pretendo desenvolver com vocês algumas reflexões no sentido de juntos pensarmos caminhos alternativos para o desenvolvimento educacional das crianças e adolescentes brasileiros que freqüentam a escola pública.
Eu sempre fui alguém desconforme e inquieta e com 25 anos de atuação como formadora de professores do ensino básico, sinto-me ainda mais desconfortável quando penso em nossa imensa responsabilidade em relação à qualidade do ensino público. Como cidadã, educadora, pesquisadora, formadora e alguém que sonha com um Brasil letrado, não posso me omitir diante de práticas metodológicas ultrapassadas que ainda vigoram em muitas escolas no Brasil.
Eu começo minhas reflexões perguntando: por que tantos professores que trabalham na escola pública pagam escolas particulares para seus filhos? Será que os próprios professores não confiam na capacidade de seus pares?
Algo está muito errado! É preciso que, independente de nossa classe social e de nosso nível de letramento, entendamos, de uma vez por todas, que somos todos responsáveis pela qualidade de educação no Brasil. Omitir nossas mazelas, colocando nossos filhos em escolas de bom nível e fingir que tudo vai bem, é uma atitude egoísta, alienante, conformista e antidemocrática, principalmente quando se trata de educadores.
As reflexões e experiências ao longo dos últimos trinta anos foram intensas e extremamente relevantes para o momento atual, pois de modo geral indicam que é preciso romper com práticas inflexíveis, que utilizam metodologias comprovadamente ineficazes. Só considerando os distintos aspectos que concorrem para a formação do aluno é que o processo de escolarização pode passar de fato a colaborar para a sua atuação autônoma. O grande problema, a meu ver, é que os resultados dessas pesquisas acabam ficando restritos à academia. É urgente envidar esforços no sentido de levar esses novos conhecimentos e essas novas metodologias até as salas de aula.
O mundo mudou, no entanto, muitos professores continuam a ensinar como se ensinava há cem anos, isso porque eles não conhecem os resultados das pesquisas em sua área. Na maioria das vezes, nem sequer sabem que existem pesquisas que apontam para novas práticas de ensino e para novas posturas no campo educacional. Imagine que um brasileiro tivesse dormido um século e acordasse agora. O mundo seria uma incógnita para ele. Celulares, fast-food, com certeza iria se perder na imensidão de um shopping. Ao entrar numa casa, ele não conseguiria entender o que é uma televisão ou um computador. Mas, quando ele deparasse com uma aula em uma de nossas escolas públicas, finalmente teria uma sensação de tranquilidade. Ah, isso eu conheço!, pensaria, ao ver um professor com um giz na mão à frente de vários alunos de cadernos abertos. É igualzinho a escola que eu frequentei.
Essa história, com algumas variações, é contada em inúmeras palestras e cursos de formação continuada de professores e também em sites da internet. Essa estória é um bom exemplo de como a escola se fossilizou em um mundo que não para de mudar, o que faz com que, naturalmente, ela não responda às necessidades do mundo atual.
Muitas escolas públicas acham que se modernizaram porque utilizam recursos tecnológicos para o desenvolvimento do trabalho pedagógico, mas esses recursos por si sós, como o uso do computador, não conferem modernidade aos projetos das escolas que ainda seguem modelos didáticos ultrapassados como o de solicitar ao aluno a cópia de conteúdos e a execução de muitos exercícios para sua memorização, desconsiderando, dessa maneira, a contribuição e a participação do aluno no processo de aprendizagem e ignorando seus aspectos socioculturais. Essas escolas precisam, com urgência, elaborar novos projetos, redefinir objetivos, buscar conteúdos significativos e novas formas de avaliar que resultem em propostas metodológicas inovadoras, com intuito de viabilizar a aprendizagem dos alunos.
O acolhimento e a socialização dos alunos nas escolas pressupõem a interação entre a equipe escolar, alunos, pais e outros agentes educativos, o que possibilita a construção de projetos que visem à melhor e mais completa formação do aluno. A separação entre escola e comunidade fica demarcada pelo autoritarismo e não pela realização de um projeto comum. A ampla gama de conhecimentos construídos no ambiente escolar ganha sentido quando há interação contínua e permanente entre o saber escolar e os demais saberes, entre o que o aluno aprende na escola e o que ele traz para a escola. O relacionamento contínuo e flexível com a comunidade favorece a compreensão dos fatores políticos, sociais, culturais e psicológicos que se expressam no ambiente escolar.
Somente na interação, no diálogo e no respeito às individualidades, encontrar-se-á aprendizagem. Hoje, mais do que nunca é preciso ensinar nosso aluno a aprender e isto significa: ensinar a pensar, a resolver, a inferir, a deduzir, a relacionar, a extrapolar, a reconhecer, a se posicionar, a ter senso crítico, a refletir, a julgar e a argumentar.
Trago aqui um exemplo de uma escola da região rural de Planaltina, um vilarejo chamado Taquara, talvez desconhecido por quase todos, mas que desenvolve um dos trabalhos mais importantes em letramento no DF. A idealizadora, Profª Vanete Aparecida Rocha Teixeira, explica, em linhas gerais, a proposta do projeto. O Projeto reflete a tentativa de implantar os fundamentos e a prática do letramento
Uma análise da conjuntura brasileira revela a necessidade de construção de uma educação básica voltada para a cidadania. Isso não se resolve apenas garantindo a oferta de vagas, mas sim oferecendo um ensino de qualidade, ministrado por professores capazes de incorporar em seu trabalho os avanços das pesquisas nas diferentes áreas de conhecimento e de estarem atentos às dinâmicas sociais e suas implicações no âmbito escolar, como esse que está sendo desenvolvido na região rural de Planaltina.
A função primordial da escola é proporcionar um conjunto de práticas com o propósito de contribuir para que os alunos se apropriem de conteúdos sociais e culturais de maneira crítica e construtiva. Decorar conteúdos que nada significam para sua vida não contribui para que o aluno se torne um cidadão consciente e capaz de atuar com competência e dignidade na sociedade.
É necessário construir aprendizagens que estejam em consonância com as questões sociais que marcam cada momento histórico, cuja assimilação é considerada essencial para que os alunos possam exercer seus direitos e deveres.
Nestes vinte e cinco anos de cursos para formação de professores, proíbo qualquer aluno de copiar o que eu digo, pois qualquer anotação tira a concentração e o encadeamento das reflexões que estão sendo propostas naquele momento. Sempre digo: -Queridos, eu empresto o texto para xerocar, o pen-driver para copiar, etc. Aula é um permanente diálogo, portanto, se eu estou dialogando com vocês é