O tremor de 175 anos atrás afetou principalmente a cidade de Concepción, que ficou destruída em apenas seis segundos Um historiador britânico afirma que o fato de Charles Darwin ter presenciado um terremoto de magnitude 8,2 no Chile em 1835 o ajudou a desenvolver a teoria da evolução das espécies. Em entrevista à BBC Brasil, John van Wyhe, fundador do portal Darwin Online, explica que o famoso naturalista britânico esteve no país sul-americano em 1835, em meio à sua expedição de barco que percorreu meio mundo ao longo de cinco anos.
No dia 20 de janeiro daquele ano, segundo o US Geological Survey, a agência geológica americana, um terremoto de magnitude 8,2 teria afetado a região e causado a morte de 500 pessoas. O sismo ocorreu por volta das 11h00 (hora local) e durou cerca de dois minutos. Assim como o evento do último sábado, o tremor de 175 anos atrás afetou principalmente a cidade de Concepción, que ficou destruída em apenas seis segundos.
O professor de história da ciência da Universidade Nacional de Cingapura explica que, no momento do tremor, Darwin estava próximo de Valdívia, cidade a 322 quilômetros do epicentro. Eu estava em terra firme e deitado em uma floresta para descansar. (O terremoto) Veio de repente e durou dois minutos (mas pareceu muito mais). O tremor era muito perceptível; a mim e ao meu servo, a ondulação parecia vir do leste (...) Um terremoto como esse destrói as mais antigas associações, o mundo, o emblema de tudo aquilo que é sólido, descreveu Darwin em seu diário.
O pesquisador então viajou para a cidade de Concepción, aonde chegou no dia 4 de março. É o mais terrível, e ainda assim, o mais interessante espetáculo que eu já testemunhei, escreveu Darwin ao encontrar a cidade em ruínas. Como mostra a ilustração acima, a catedral da cidade havia desmoronado.
Combinando suas próprias observações com as de muitos moradores locais, Darwin tentou reconstruir o evento e entender porque ele havia ocorrido. Ele descobriu que três vulcões haviam entrado em erupção ao longo da costa chilena quase simultaneamente ao terremoto, explicou van Wyhe.
Darwin observou que, por causa do terremoto, a costa havia se erguido em relação ao nível do mar. O ponto em que as ondas se chocavam contra as pedras da ilha de Santa Maria, por exemplo, era três metros mais baixo do que o usual.
Essa observação levou o pesquisador a concordar com as teorias que defendiam que o planeta Terra está em uma constante e lenta mutação. Essa experiência foi muito importante para Darwin, porque ele já havia lido muito sobre as constantes alterações do planeta Terra, mas no Chile é que ele pôde presenciar e estudar esse fenômeno com seus próprios olhos, disse van Wyhe à BBC Brasil.
(Essa observação) foi uma das principais influências que levaram Darwin a se perguntar como os seres vivos sofreram mutações para se adaptar a um mundo sempre em mutação. Sua resposta foi, é claro, evolução, ou que novas espécies são descendentes genealógicas de antepassados, adaptadas de acordo com a seleção natural do ambiente de cada um, explica van Wyhe.
O recente trágico terremoto no Chile demonstra, como Darwin sabia bem, que nossa Terra não é estática. Ela ainda está mudando, ainda evoluindo, conclui o historiador.
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Foto: BBC Brasil
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