Emoções que informam
Emissoras públicas usam o (aparentemente superado) formato das radionovelas para desempenhar papel educativo junto às comunidades
Naiobe Quelem
A paixão brasileira pelas novelas, eternizada na tevê, um dia já foi a sensação do rádio. Sucesso nacional nas décadas de 1940 e
“Nos últimos oito anos, a radionovela tem sido muito usada por instituições públicas e não-governamentais, para passar um conteúdo educativo. Essa linguagem funciona porque aproxima o ouvinte do assunto, à medida em que incorpora cenas do cotidiano”, explica a professora do Departamento de Comunicação da Universidade de Brasília e pesquisadora Nélia Del Bianco.
Na Rádio Nacional – mais especificamente nos estúdios da emissora na Amazônia –, a radionovela retornou no início da década de 1980, cerca de quatro décadas após a transmissão de seu primeiro folhetim, Em busca da felicidade, de Leandro Blanco, adaptado por Gilberto Martins. “O Décio Caldeira começou o trabalho, mas morreu logo após a primeira produção. Dei continuidade a partir de 1985 e nunca mais parei”, conta a produtora executiva da Rádio Nacional da Amazônia, Artemisa Azevedo.
No início, a motivação era proporcionar entretenimento aos ouvintes da Região Norte, em locais onde somente o sinal da rádio chegava. Com o retorno dos ouvintes, Artemisa passou a escrever histórias sobre temas de interesse do povo da Amazônia e, ao se aproximar daquela realidade, descobriu uma rica e eficiente forma de diálogo. “O retorno entusiasmado dos ouvintes me fez perceber a força da radionovela como veículo para informar e ajudar as pessoas”, conta. O último folhetim, por exemplo, foi Chama da terra, que falava sobre as conseqüências das queimadas da Amazônia. Na segunda semana que vem, a rádio estreará uma série com cinco radioclipes (histórias contadas num único capítulo) sobre violência contra a mulher.
Mesmo com direcionamento educativo, as radionovelas se sustentam numa trama, com emoção, romance, intrigas, mocinhos e vilões. Os radioatores são os próprios jornalistas, locutores, produtores e demais funcionários da Radiobrás, inclusive da parte técnica, responsável pela trilha e efeitos especiais. Tudo sob supervisão, direção e montagem de Artemisa. Esse trabalho fez com ela fosse uma das seis brasileiras selecionadas para participar de um curso na Alemanha, oferecido pela rádio pública alemã Deutsche Welle, no mês passado. “Eles queriam nos ajudar a aprimorar a radionovela como forma de educação. Percebi que, mesmo sem ter estudado o formato, eu estava no caminho certo”, resume Artemisa.
O retorno entusiasmado dos ouvintes me fez perceber a força da radionovela como veículo para informar e ajudar as pessoas
Da equipe do Correio