Debate sobre qualidade da educação brasileira está no caminho errado
 
 Alan Meguerditchian
 
 
 
É preciso aumentar o salário dos professores. A educação no Brasil não vai melhorar enquanto não forem destinados mais recursos para as escolas. Temos que informatizar nossas escolas. É imprescindível que os professores façam cursos para se atualizarem. Todos esses clamores de políticos, órgãos de imprensa, educadores, pais e muitos outros já podem ser considerados senso comum, com pouco valor empírico e que quase nada ajudam o Brasil a sair da situação educacional grave na qual se encontra.
Segundo pesquisas, divulgadas durante o seminário Remuneração do professor, gestão e qualidade da educação, em São Paulo, professores de escolas públicas e privadas têm remuneração bastante próximas e escolas que gastam R$ 3 mil ou R$ 700 por aluno têm desempenho iguais e, muitas vezes, as que gastam menos, vão melhor. Além disso, a utilização de computadores durante as aulas não aumenta o rendimento do aluno, assim como a formação continuada dos professores tem surtido pouco efeito.
A diferença entre os salários dos professores não pode ser argumento para explicar a diferença de desempenho dos alunos. A maior diferença de professores da rede privada em relação aos da rede pública é de 14%, se observado o ensino médio, explica um dos pesquisadores do estudo Diferencial de remuneração públicaprivada, Samuel Pessoa. Se recortado a remuneração das professoras de 1º ao 4º ano do ensino fundamental ao longo da vida, as que lecionam na rede pública recebem 12% mais do que suas colegas da rede privada.
As vantagens, tanto para um lado, quanto para o outro, são muito pequenas em todos os recortes. Exclui-se, assim, o argumento que a remuneração do educador é fator relevante na diferença de desempenho dos alunos brasileiros. É preciso salientar que os números do ensino público foram subestimados, pois, dependendo da rede em que o professor trabalha, existem gratificações e vantagens que não foram consideradas, disse. Os cálculos foram baseados em dados do censo de 2000, do qual foram retirados os valores dos salários base respondidos pelas pessoas que se disseram professores. Além disso, é preciso considerar que do ano pesquisado até 2007 ocorreu um aumento importante no salário dos profissionais da rede pública, conclui.
Antes considerado paradigma, o argumento que pede mais recursos para as escolas também foi desconstruído durante o seminário. Coletamos dados de uma escola que gasta R$ 400 por aluno e outra que gasta quase R$ 1 mil. Ambas alcançaram cerca de 215 pontos no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) - que avalia, por amostragem, os alunos dos ensinos fundamental e médio do Brasil, explicou o pesquisador Naércio Menezes, autor do estudo Os determinantes do desempenho escolar no Brasil. Variações ainda maiores foram identificadas, o que mostra que não é o recurso que a escola tem para gastar que faz a diferença. O que é preciso estudar agora é por que ocorre essa diferença. Desconfiamos que é a gestão o ponto. Pelo menos podemos ser otimistas, pois é possível melhorar a situação com os recursos que temos disponíveis, disse.
Para confundir ainda mais aqueles que dizem entender de educação, o estudo de Menezes identificou que a diferença entre os alunos que utilizam o computador durante as atividades escolares e os que não têm esse recurso é irrelevante. No ensino médio, o coeficiente de variação de desempenho dos que usam a máquina foi de 0,03, explicou.
Outra conclusão, que pode gerar debate, foi a de que alunos de professores que participaram dos chamados cursos de atualização não têm desempenho melhor do que aqueles que assistem aulas de educadores que não fizeram os cursos. 80% dos professores disseram que participaram de algum tipo de atualização. Mas a diferença do desempenho de seus alunos foi irrelevante, disse Menezes.
Não podemos contestar os dados. Devemos apenas refletir sobre eles. É correto afirmar que pagar mais para os professores não tem relacionamento com aumento de desempenho dos alunos. Mas começar a carreira recebendo R$ 3 a horaaula é justo? Além disso, aumentar as verbas para uma escola com três mil alunos, divididos em quatro turnos que é quase impossível de gerenciar, é razoável?, refletiu a consultora em educação da Fundação Lemann, Ângela Mello.
Todos esses dados servem para mostrar que estamos levando a discussão para o lado errado. Não podemos continuar reduzindo o problema da educação brasileira em questões como salários, cursos de aperfeiçoamento ou uso de computador. Devemos sim, nos perguntar por que alguns fazem e outros não. Estamos em uma situação na qual comemoramos se algum estado aumenta o desempenho de seus alunos em seis pontos no Saeb. Não devemos fazer isso, pois estamos em um contexto muito ruim e aumentar um pouco o resultado é passar para o ruim. Devemos sim é tentar mudar de patamar, finalizou a reflexão o cientista político e sociólogo, Simon Schwartzman.


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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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