EDUCAÇÃO

Um passo além de alfabetizar

Uma pesquisa mostra que o problema não é mais ensinar as crianças a ler, e sim a interpretar o texto

 

 
QUALIDADE
Creso Franco, um dos coordenadores do estudo que avalia 20 mil alunos para propor melhorias no ensino
O ministério da educação divulgou na quinta-feira o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de cada escola do país. Todas as unidades ganharam uma nota que leva em conta o desempenho e a discrepância entre a idade dos alunos e a série em que deveriam estar. A partir de agora, cada escola sabe quanto será preciso aumentar essa nota por ano para que a média nacional do Ideb, hoje de 3,8, suba para 6 até 2021. Com a meta traçada, começa a fase mais difícil: estabelecer as estratégias locais. A pergunta é a mesma para toda escola: como melhorar?

A resposta pode estar na maior pesquisa na área da educação em andamento no país, a Geração Escolar (Geres), que acompanha 20 mil alunos em seis cidades brasileiras. Depois de avaliá-los no início e no fim do 2o e 3o anos do ensino fundamental (1a e 2a séries no modelo antigo), os pesquisadores chegaram a uma conclusão que derruba o senso comum entre educadores: a suposta deficiência na alfabetização não é a origem do baixo desempenho na primeira fase do ensino fundamental. O problema está em sua consolidação. Ou seja, os alunos aprendem a ler e a escrever as palavras, mas não sabem interpretar um texto e articular as idéias de uma redação. Segundo a pesquisa, é nessa fase que as escolas devem investir se quiserem melhorar o Ideb. “Nossas avaliações mostram que eles aprenderam bastante no 2o ano. Se o ritmo continuasse assim, teríamos resultados bem diferentes nas avaliações nacionais”, diz Creso Franco, professor da PUC-RJ e um dos coordenadores da pesquisa. “Já quando testamos o 3o ano, os mesmos alunos aprenderam pouco.”

A Geração Escolar vai acompanhar os alunos durante quatro anos e é elaborada, em conjunto, por seis dos principais centros de pesquisa do país: PUC, Unicamp e as universidades federais de Minas Gerais, Juiz de Fora, Bahia e Mato Grosso do Sul.

Segundo Creso, a principal razão para o ritmo de aprendizado cair é que, no 3o ano, as escolas perdem o foco do que devem ensinar. Embora a idéia de que o aluno deve sair alfabetizado do 2o ano já esteja consolidada, poucas dão a mesma atenção à leitura e à interpretação de texto nos anos seguintes, quando outros elementos costumam aparecer para desviar a atenção dos alunos. O primeiro deles é a gramática. Há professores que trabalham a diferença entre o substantivo e o adjetivo antes de apresentar todas as modalidades de texto existentes.

O segundo obstáculo observado pelos pesquisadores é a pequena oferta de livros e revistas. Segundo o Censo Escolar, apenas 53% dos alunos do ensino fundamental têm acesso a uma biblioteca em sua escola. Para Creso, uma das melhores maneiras de desenvolver a leitura é alternar livros didáticos, literários, revistas e tabelas.

 
A PRIMEIRA
O Ciep Prof. Guiomar Neve, no Rio, está com 8,5 no Ideb. Sua meta para 2021 é 9
O desafio para as escolas agora é mudar de estratégia. Como o Ideb combina desempenho e fluxo escolar, os diretores precisarão bolar planos para melhorar o ensino e manter os alunos na série equivalente a sua idade. “Na prática, vai ser difícil ver os dois resultados ao mesmo tempo. Os primeiros Idebs devem mostrar melhora pela diminuição da reprovação”, diz Creso. Isso porque as escolas que passam por grandes reformas costumam apresentar uma queda da qualidade no primeiro ano. O progresso só aparece depois.

Além de investir na qualidade, Creso acredita que as escolas ou gestores municipais e estaduais devem criar mecanismos para restringir a reprovação. “O Brasil tem um dos índices mais altos do mundo. Isso é ruim, porque muitas escolas desistem de alunos já considerados repetentes. Dificultar a reprovação obrigaria o professor a investir nesse aluno”, afirma.

A equação criada pelo governo evita que as escolas aprovem todos os alunos para melhorar o Ideb. Se isso acontecer, a nota cai, derrubando o índice. Mas ainda há brechas para burlar o resultado. Uma delas é enviar os alunos mais fracos para casa no dia da avaliação, como aconteceu na Inglaterra quando foi criado o sistema de metas britânico.

A Geração Escolar, ainda em curso, vem em boa hora. Na mesma semana em que divulgou o Ideb por escola, o Ministério da Educação lançou um selo para premiar as cidades que têm mais de 96% da população alfabetizada. Entre as 47 medidas do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), o programa Brasil Alfabetizado é considerado uma das quatro principais ações pelo ministro Fernando Haddad.

Embora o Brasil produza mais de 2 mil teses de mestrado em educação a cada ano, a Geres é a única pesquisa que está acompanhando os mesmos alunos ao longo de quatro anos nas escolas. Com isso, será possível identificar quais os diferentes impactos da escola no aprendizado individual. A falta de clareza nas ações para melhorar a educação é, em parte, conseqüência direta da escassez de pesquisas qualitativas na área. Agora, pela primeira vez, o governo estabeleceu um plano de metas para a educação no Brasil. Só precisa tomar cuidado para não repetir o erro das escolas, que perdem foco no decorrer dos anos. Apenas com um diagnóstico claro de onde estão os problemas será possível avançar na educação.

Cada escola tem sua meta
As piores no Ideb serão as mais cobradas. Hoje, as melhores estão no Sudeste
As primeiras colocadas  ESCOLA  Ciep 279 Prof. Guiomar G. Neves  Centro Eduacional Januário de Toledo  Emef Profa. Helena Borsetti  Escola Estadual Carvalho Brito
 Colégio Pedro II – Tijuca 1 
  Onde fica  Trajano de Moraes, RJ  São Sebastião do Alto, RJ  Matão, SP  Guaranésia, MG  Rio de Janeiro, RJ 
  Ideb hoje  8,5  8,1  7,3  7,1  7,1 
  Meta para 2021  9  8,8  8,4  8,3  8,2 
As últimas da turma  ESCOLA  Monteiro Lobato  Esfinge  Santa Rita  Professora Vera Lúcia Costa  José Paraguassu Guerreiro 
  Onde fica  Reserva do Iguaçu, PR  Lauro de Freitas, BA  Valparaíso de Goiás, GO  São Jerônimo da Serra, PR  Cotegipe, BA 
  Ideb hoje  0,1  0,1  0,2  0,2  0,2 
  Meta para 2021  5,5  4,7  5  5,3  4,7 

 


 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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