O trema é uma excrescência que vários escritores já haviam abolido. Uma rebeldia que Monteiro Lobato já praticava contra os gramáticos, no início do século 20 | |
Gabriel Chalita, Educador e escritor
artigo Ação entre amigos
Por Dad Squarisi
A história começou em 1990. Em dezembro, os então sete países lusófonos assinaram o acordo ortográfico. Impuseram uma condição para as alterações entrarem em vigor: a ratificação do total de signatários. O tempo passou. Em guerra civil, Angola e Moçambique não estavam nem aí pra tremas e acentos. Mas o Brasil tinha pressa.
Por quê? O dicionário Houaiss estava em gestação. Se saísse com as mudanças, mandaria o Aurélio pra lixeira. Os parceiros não tinham nada com a urgência. Deu-se um jeitinho. Em 1998, fizeram um remendozinho no texto. Em 2004, outro. Resultado: três países seriam suficientes para pôr a moda na rua. Brasília, Praia e São Tomé adotarão a novidade. Os demais ficam de fora.
Os defensores dos retoques alegaram causas nobres para a reforma. Segundo eles, o acerto promoveria milagres dignos de Cristo. Pra começo de conversa, traçaram quatro objetivos. Um: melhorar o intercâmbio cultural entre os países lusófonos. Dois: reduzir o custo da produção e tradução de livros. Três: facilitar a difusão bibliográfica e de novas tecnologias. O último: aproximar as nações de língua portuguesa.
Será que a expulsão do pobre trema e mudança de um acentinho aqui e ali têm poder de competir com Jesus? Nós chamaremos moça de rapariga, rapaz de gajo e menino de puto? Os portugueses chamarão comboio de trem? Nós passaremos a ler os autores africanos e eles a lerem os brasileiros? Será que os 230 milhões de lusófonos invadirão a cultura uns dos outros?
Não. Mas faremos fogueira de dicionários, gramáticas & cia. letrada. O MEC prepara licitação pra troca dos livros didáticos. Pais terão de substituir as obras das estantes pra garotada estudar. A farra tem preço. Quem pagará a conta? É por essas e outras que os portugueses ficaram de fora. Deixam como está pra ver como é que fica.
Editora de opinião e colunista do Correio Bbraziliense
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