Uma semana após o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dizer no Congresso do PSDB queremos brasileiros melhor educados, e não brasileiros liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria, a construção usada ainda gera polêmica.
A Folha ouviu três especialistas. Para eles, é possível usar melhor educado, mas seria mais recomendável usar a forma mais bem.
Maria Helena de Moura Neves, autora de Gramática de Usos do Português Contemporâneo e professora da Unesp e do Mackenzie, afirma: Até seria possível dizer melhor educados (ou educados melhor), mas o significado seria educados de maneira melhor. Mas, pelas condições em que a frase foi dita, não era isso o que ele queria dizer, afirma. O que quis foi fazer uma comparação entre indivíduos quanto ao grau em que possuem a qualidade bem-educado, algo como brasileiros mais bem-educados do que os que estão por aí.
Ela conclui que a crítica à fala de FHC procede, não porque se toma como lei que não haverá nunca o advérbio melhor qualificando um particípio, mas pela diferença de sentidos. O que cabe bem na declaração é a primeira, e não a segunda construção.
José Luiz Fiorin, professor de lingüística da USP (Universidade de São Paulo), diz que, diante de particípio como educado, prefere usar mais bem. É a forma mais tradicional na gramática. Mas a língua não é uma entidade fixa. O melhor foi sendo usado e eu entendo que se admite esse melhor, é perfeitamente possível, diz.
Francisco Platão Savioli, professor aposentado da USP, argumenta que ambos os usos são recorrentes na variante culta formal.
O estilo ocorre quando a língua permite dois usos, você escolhe o de seu agrado. Quando se trata do comparativo melhor ou mais bem referindo-se a uma forma participial, a língua culta formal registra os dois usos. As duas formas coexistem na língua culta formal, afirma o professor.
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