A educação brasileira costuma chamar atenção no cenário internacional por dois motivos – um bom e outro ruim. O negativo diz respeito ao nível do ensino. Entra ranking, sai ranking, e o Brasil aparece invariavelmente nas últimas posições. O outro motivo para o país sobressair diante dos demais é positivo e merece destaque. Poucos países possuem um sistema para aferir a qualidade do ensino tão abrangente e eficaz. Ele permite rastrear com precisão as dificuldades em sala de aula e chegar, enfim, a um diagnóstico dos problemas. Até então, no entanto, os dados serviram basicamente para subsidiar os teóricos – e quase nenhum uso se fez deles no campo prático. O Ministério da Educação (MEC) deu um notável passo adiante ao criar um sistema segundo o qual as escolas públicas passarão a ter metas de desempenho e serão cobradas por isso, justamente com base nas avaliações. Algo semelhante acaba de ser anunciado pela Secretaria Estadual de Educação em São Paulo – e surpreendeu os observadores por ser ainda mais radical nas medidas. Neste caso, as escolas não só terão objetivos concretos a atingir como, ainda, uma expressiva melhora no nível das aulas será premiada com bônus de até três salários a mais por ano para cada funcionário. Diz a secretária de Educação, Maria Helena Guimarães: Só com um sistema capaz de reconhecer o talento das pessoas é possível sonhar com um bom ensino. Funciona assim em outros países.
Uma das bases para o novo monitoramento das escolas em São Paulo será o Saresp, uma prova de matemática e leitura aplicada a 2 milhões de estudantes. Ela existe desde 1996, mas pela primeira vez o governo decidiu divulgar as notas das escolas Esse novo levantamento – a partir do qual o progresso dos colégios será medido – primeiro reforça a idéia de decadência do ensino. O pior resultado foi em matemática. Ao final do ensino fundamental, os estudantes tiraram nota 3,3. Isso numa escala de zero a 10. Além de ter dado números às notórias deficiências, outro mérito do Saresp foi jogar luz sobre um raro conjunto de escolas públicas em que o ensino é de ótimo nível. Com isso, propagam-se exemplos como o da escola Theresa de Arruda Bailão, de Serra Negra, município de 25.000 habitantes no interior do estado. Ela é a melhor do ranking. Os alunos de lá, na maioria filhos de agricultores sem quase nenhum estudo, têm seus horizontes ampliados com a ajuda da diretora Ivone Pereira, há 25 anos em escolas públicas. Com um ônibus cedido pela prefeitura e dinheiro arrecadado em festas na escola, ela passou a levar as crianças para exposições de arte e bibliotecas. Foi a chance de Jonas Carra, 8 anos, e de alguns de seus amigos de pisar pela primeira vez num cinema. Essa escola é o máximo, diz o menino.