Caro Everaldo.
Sua viagem deve ser interessantíssima! Timor-Leste, entretanto tem uma história bem diferente da nossa. Para informações sobre as línguas gerais sul americanas (inclusive a língua geral paulista) veja o LALI em www.unb.brillali . Lá veja publicações. Há um artigo do Aryon sobre o assunto que acho o melhor até agora. Disse paulistaem oposição `amazônica, ainda falada aqui e ali na Amazônia, principalmente na região do Rio Negro. Veja também o IPOL (www.ipol.org.br ), onde talvez ache alguma coisa sobre as 3 línguas co-oficiais (por lei mesmo) creio que nessa mesma região.

Quanto ao subjuntivo, basta abrir os ouvidos. Pouca gente o usa. Até nosso ilustre presidente sistematicamente usa o indicativo. Tenho uma interessante entrevista em vídeo em que um homem (provavelmente) da classe D da região do grande Rio diz se Deus quiser, se Deus ajuda. No primeiro caso temos uma frase congelada e aparece o subjuntivo, mas na segunda não. A justaposição é interessante.

Permita-me citar um trecho de seu texto que interpretei como se referindo à minha transcrição do tipo
(s[e-yow]) SALE. Veja só, estou apenas usando os recursos do computador, sem alfabeto fonético, para sinalizar que na palavra SALE a consoante l , que se comporta como aproximante alveolar nessa palavra em inglês, se vocaliza (palataliza de acordo com nossos hábitos fonéticos) no português, quebrando a palavra em 2 sílabas. Os [ ] indicam que não são letras, mas sons. Mas certamente estou ensinando padre-nosso ao vigário, pelo que me desculpo.

Concordo, é claro, que a ortografia é uma convenção. Mas as mudanças constantes feitas a torto e a direito, por lei, tornaram-na opaca à história da língua e nos fez perder a noção da sua evolução e das mudanças ocorridas. Uma pena! Como saber que úmido era húmido, e associá-la a humid, humide, etc. Perdemos também a noção de que um H marcava a sílaba acentuada, como em Dinah. Aliás, concordo que nenhum empréstimo mexeu com nossa fonologia, mas nossa fonologia mexeu com os empréstimos. Esse era meu ponto original, lembra?

Boa semana e nos conte depois as suas experiências no Timor-Leste.
Um abraço,
Lucia

----- Original Message -----
From: Everaldo <ever_silva@hotmail.com>
To: <
CVL@yahoogroups.com>
Sent: Saturday, January 12, 2008 9:50 PM
Subject: [CVL] Re: NÃO DEFENDO O ALDO REBELO, MAS A LÍNGUA PORTUGUESA...

Bom domingo, Lúcia e demais colegas!

A ausência se deveu ao fato de eu não estar mais na Indonésia e com
a facilidade de acesso mesmo, mas já estar de volta em solo leste-
timorense...

Nossa sociolingüística, de Labov a Gumperz (sem esquecermos o nosso
Tarallo) certamente tem estudos bem interessantes também no contexto
do NURC. Uns vão achar que fiz um percurso reducionista...

Quanto à tentativa rabelial, é simplesmente uma das coisas de quem
não tem um plano de ações claro em prol do desenvolvimento da
comunidade que o elegeu e precisa demonstrar que está fazendo algo.

Que língua-geral paulista é essa? Eu me referi ao idioma falado
em toda a costa brasileira, para cujos povos Tupã era a força
criadora das coisas. Um crioulo de base local e mesclado com
palavras do português. Essa referência eu encontrei em Timor-Leste
ano passado (Babel lorosa´e) e fiquei intrigado com a comparação do
crioulo de base asiática com empréstimos do português e aquele que
outrora fora usado no Brasil. Comparação em termos de o português
não se ter estabelecido como língua vernácula.

Arriscar que o subjuntivo (ou conjuntivo para os portugueses) esteja
em desuso no Brasil, é interessante, recorrendo à sociolingüística
variacionista, informar-me quais são esses falantes, visto que eu
uso, todos os outros professores da cooperação brasileira aqui o
usam e se isso é um fenômeno mais voltado para os gêneros primários
ou secundários etc.

Boa parte do que você escreveu por aqui eu compartilho, embora minha
formação em Lingüística não seja num nível tão elevado
certificadamente (o nosso sistema universitário em nível de pós-
graduação muitas vezes é muito nefasto e excludente), principalmente
no tocante ao fato de ortografia não ser língua, mas servir para
representá-la. É muito estranho quando uma pessoa faça uma
comparação e se paute na ortografia das palavras e não em parâmetros
fonético-fonológicos; e por mencionar esse ramo
da microlingüística, uma convenção ortográfica não é pautada num
estudo fonético, mas levando em consideração a fonologia da língua,
em termos bem saussureanos mesmo. Bakhtin reconhece isso no capítulo
4 de Marxismo e filosofia da linguagem no tocante ao que se fazer
com o objetivismo abstrato.

Qual foi o empréstimo que mexeu com nossa fonologia? Ah não estamos
falando da mesma coisa mesmo! Qual fonema entrou no inventário
(espero mesmo que fique como herança para alguém) da língua
portuguesa usada no Brasil? Que eu saiba, nenhum.

Centremo-nos na interação, os mal-entendidos vão persistir ainda,
visto que imagino que não seja sua intenção me fazer pensar como
você pensa, assim como em absoluto é a minha, o contrário.

Um abraço,

Everaldo Freire ( Fonte: CVL)

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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