22022008 - 20:00 | Edição nº 510

A lan house na sala de aula

Um projeto inovador leva games e computadores para uma escola pública do Rio de Janeiro

thomas traumann - www.epoca.com.br


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BRINCAR E APRENDER
Alunos exibem projeto de game na escola estadual Cícero Dias, do Recife, um dos modelos
do projeto carioca

Por fora, a “escola do futuro”, que será aberta em maio no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, parece um colégio normal para adolescentes. Administrada pelo governo fluminense, terá a mesma grade curricular das outras escolas de ensino da rede estadual. Por dentro, porém, é tudo diferente. “Nas escolas normais, os alunos saem da aula para ir para a lan house (loja onde se alugam computadores por hora para acessar a internet e jogar games). Nessa escola, vamos colocar a lan house dentro da sala de aula”, afirma o coordenador do projeto pedagógico, Luciano Meira, professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do C.E.S.A.R. (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), um pólo de inovação tecnológica em Pernambuco.

O projeto carioca é ambicioso. A companhia telefônica Oi investiu quase R$ 6 milhões na compra de computadores com banda larga e equipamentos e na transformação de uma de suas sedes regionais em salas de aula. Em 2008, a escola terá 176 alunos, apenas no 1o ano do ensino médio. Em 2009, serão de 600 a 700 jovens, em período integral. Nas salas de aula, em vez das tradicionais filas de carteiras, haverá “núcleos” que vão trabalhar como “equipes de projeto”. As salas não terão lousas, mas telas digitais chamadas smartboards conectadas com programas de edição. Numa aula de Geometria, por exemplo, a noção de círculo será dada com os alunos usando computadores. “Podíamos montar uma escola de elite, bonitinha, cercadinha. Mas isso seria fácil demais”, afirma o engenheiro Luiz Falco, presidente da Oi. “A intenção é levar o que há de mais moderno em tecnologia para uma escola pública. Queremos que essa escola aponte o futuro das outras escolas.”

Além de terem aulas normais da grade-padrão do ensino médio, os estudantes aprenderão a criar softwares de games, análise de sistemas e programação. As aulas serão dadas com jogos eletrônicos dos sonhos dos meninos de classe média, como PlayStation, Xbox 360 e Wii. Não haverá laboratório de informática, como nas escolas “normais”, mas ilha de edição de som e imagem com softwares de última geração, como o 3DS Max (de animação) e o Avid ProTools (para edição de som). Mas, para manter a atenção dos estudantes, os professores não vão permitir acesso ao site de relacionamento Orkut. Ao final dos três anos do ensino médio, prevê Falco, dificilmente algum aluno ficará sem emprego. Estima-se que só nas quatro maiores companhias telefônicas do país existam hoje 17 mil vagas para programadores.

A Escola do Futuro tem dois modelos. O primeiro é a School of the Future, mantida pela Microsoft na cidade de West Philadelphia, nos Estados Unidos. Aberta em 2006, tem laptop para cada um dos 700 alunos. Todos os trabalhos são feitos com recursos multimídias e apresentados on-line. O segundo exemplo é um projeto piloto que a própria Oi mantém há um ano, em conjunto com o governo de Pernambuco, no Centro Experimental Cícero Dias. No primeiro ano, os alunos aprenderam a criar, a partir do zero, dois jogos originais de computador.

A experiência carioca incluirá, por enquanto, apenas alunos matriculados na rede pública do Rio. Os professores estaduais estão passando por treinamento e terão, nas aulas, o apoio de monitores especializados em tecnologia. “Todo mundo vive falando que o Brasil só será um país de Primeiro Mundo por meio da educação. Mas a educação antiga talvez não seja suficiente para levar o Brasil para a frente. Vamos precisar de um ensino inovador. Esse é o começo”, diz o governador Sérgio Cabral Filho. Ele afirma que, se a experiência der certo, será expandida para outras escolas públicas do Rio.



Foto: Guga MatosÉPOCA