Lauro Morhy (*)

Lauro Morhy (*)

É com grande satisfação que participo desta Celebração do 4º.Centenário de Nascimento do Padre Antônio Vieira, representando a Universidade de Brasília (UnB) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e também como simples admirador da obra desse grande mestre da língua portuguesa do século XVII e, porque não dizer, de todos os tempos.

Quisera eu ter o dom da oratória para neste momento poder homenagear o Pe. Antônio Vieira usando ainda que um pouco da sua espontaneidade e vigor, da sua erudição, da sua estilística, da sua segurança e da clareza dos seus sermões. Não o tendo, recorro a esta breve e modesta manifestação que aqui faço com o mais profundo reconhecimento, com a gratidão mais sincera por toda obra gigantesca e valiosa que Vieira nos legou.

Vieira foi um dos luso-brasileiros mais brasileiros! Nasceu em 1608 em Lisboa e faleceu em Salvador, Bahia, em 1697. Educado no Colégio Jesuíta da Bahia, foi desde cedo contemplado com o dom da palavra e com conhecimentos de filosofia e teologia, enquanto vivia um Brasil que dava os primeiros passos, enquanto descortinava o mundo com todos os seus encantos e sua dura realidade.

Certamente predestinado pelo céu, iniciou o seu noviciado com os jesuítas já em 1623, e teve uma vida plena de atividades que enriqueceram muito a sua mente e o seu espírito. No seminário teve despertada a sua vocação para o magistério, mas logo viu que tinha também muito a fazer além da sala de aula. Foi combatente e ferido na luta contra a segunda invasão holandesa; trabalhou de perto com escravos e índios. Viveu a proximidade do poder em Lisboa e em Roma. Defendeu os Cristãos Novos. Sofreu perseguição pela Inquisição; foi quando teria balbuciado que “os inquisidores viviam da fé e os jesuítas morriam por ela”...

Magoado disse Vieira certa vez, em um sermão na Capela Real em Lisboa: “Se servistes a pátria que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, ela o que costuma; mas, que paga maior para um coração honrado que ter feito o que devia ?”. Este desabafo é sempre atual e frequentemente lembrado e repetido ainda em nossos dias, pois, afinal, os homens ainda são os homens, e a pátria o que costuma...
Vieira fez muito em sua longa vida de 89 anos, mas foram os seus sermões e os seus livros que o imortalizaram!

Ao terminar a minha missão como Reitor da Universidade de Brasília em 2005, em comum acordo com a equipe de dirigentes que me acompanhava, e especialmente com o grupo do Laboratório de Estudos do Futuro, decidimos que encerraríamos aquela nossa missão, tão rica em experiências e resultados, com uma edição especial da obra História do Futuro, do Pe. Antônio Vieira.

Na ocasião do seu lançamento, significativamente aqui, na Embaixada de Portugal, tive a honra e a satisfação de declarar que aquele lançamento era a chave de ouro, com a qual encerrávamos a honrosa missão que nos fôra confiada. Era a nossa homenagem, já iniciando as comemorações do 4º. centenário do nascimento do Pe. Vieira.

A preparação da edição primorosa da História do Futuro, feita pela Editora da Universidade de Brasília, contou com a dedicada colaboração do Padre José Carlos Brandi Aleixo (Organizador), dos Doutores João Ferreira e João Pedro Mendes, de nossas então estudantes de pós-graduação, Andréa Costa Tavares (mestranda) e Vanda Passos (doutoranda), além de uma equipe de revisores citados no livro. Mas foi graças à colaboração dos amigos das Embaixadas de Portugal no Brasil, especialmente do Embaixador Francisco Seixas da Costa; dos amigos da Embaixada do Brasil em Portugal; e, especialmente, do Dr. Pedro Cardim, que tornou-se possível incluir na preciosa obra, os riquíssimos painéis, que resultaram de iniciativa da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, no âmbito da celebração da efeméride da morte do Padre Antônio Vieira.

Senhoras e Senhores! O Passado e o presente se encontram no início do futuro todos os dias, e o acompanham por muito tempo. Assim é que Vieira está aqui hoje, vivo, com as suas idéias, com a sua milagrosa inteligência e sabedoria, a nos dizer que
“O homem, filho do tempo, reparte com o tempo ou o seu saber ou a sua ignorância; do presente sabe pouco, do passado menos e do futuro nada”.

Mas, prezadas amigas e amigos, certamente Vieira concordará conosco, seus admiradores e discípulos, quando aqui também dizemos hoje, em sua homenagem, que o futuro não é o que se teme, que o futuro que queremos é o que se constrói com muita dedicação, trabalho árduo, muito respeito a tudo e a todos, e com pleno amor ! Sim, com pleno amor, porque tudo que é verdadeiramente grande e bom, nasce do amor!


(*)Lauro Morhy, Doutor em Biologia Molecular Química de Proteínas, é Professor Emérito e Ex-Reitor da Universidade de Brasília.

Pronunciamento feito no dia 11 de fevereiro de 2008, na Embaixada de Portugal em Brasília, por ocasião da Celebração do 4º.Centenário de Nascimento do Padre Antônio Vieira, promovida pela Embaixada de Portugal e pela Universidade de Brasília.

Categoria pai: Seção - Notícias

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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