Em apenas 19 municípios população possui mais de 8 anos de estudo
A análise do grau de escolarização da população, ou seja, o número médio de séries concluídas, mostra que em apenas 19 cidades brasileiras a população possui um índice que corresponde às oito séries do ensino fundamental. Em outros 1.796 municípios do País a escolarização média da população é inferior a quatro séries concluídas, o que não é suficiente para o término do primeiro ciclo do ensino fundamental.
A partir destes dados, o estudo mostra que existe uma forte correlação entre o grau de instrução e a taxa de analfabetismo. Em Niterói (RJ), cuja população possui o maior número médio de séries concluídas do País, de 9,5 anos, a taxa de analfabetismo é de 3,6%.
No outro extremo está a cidade de Guaribas (PI), na qual a população tem, em média, apenas 1,1 série concluída. No município, a taxa de analfabetismo é de 59%, e o analfabetismo funcional alcança quase 93% da população.
As diferenças regionais ficam evidentes quando se leva em conta o grau de instrução da população. Todos os dez municípios com melhores indicadores estão nas Regiões Sul e Sudeste, e as dez cidades com o menor número médio de séries concluídas estão nas Regiões Norte e Nordeste.
Analfabetismo chega a ser 20 vezes maior entre mais pobres
As taxas de analfabetismo estão diretamente relacionadas à renda familiar, segundo os dados apresentados pelo “Mapa do Analfabetismo”. Nos domicílios que possuem renda superior a 10 salários mínimos, o índice é de apenas 1,4%, enquanto nas famílias que possuem renda inferior a um salário mínimo o índice alcança 29%.
Na Região Nordeste o contraste é ainda maior. Nos domicílios com renda até um salário mínimo o índice é de cerca de 37%, e nas famílias com renda acima de 10 salários mínimos o analfabetismo é de 1,8% da população de 15 anos ou mais.
Faixas etárias – O analfabetismo atinge pessoas de todas as faixas etárias, com intensidades diferentes. Na faixa de 10 a 19 anos, 7,4% da população é de analfabetos. “Enquanto os analfabetos nas faixas etárias mais avançadas foram criados pelo sistema educacional de décadas atrás, os analfabetos mais jovens deveriam ter sido alfabetizados ao longo dos últimos anos, mostrando assim a atual situação do ensino fundamental em nosso País”, afirma Otaviano Helene, presidente do Inep.
A maior concentração de analfabetos está na população de 60 anos ou mais, onde 34% das pessoas não sabem ler e escrever. O relatório defende estratégias específicas voltadas para cada segmento etário. “O que os trabalhos na área mostram é que os alunos recém-alfabetizados devem ser imediatamente encaminhados para o ensino regular, para evitar uma das características mais comuns em programas de alfabetização em massa: o retorno à condição de analfabeto em curto prazo de tempo.”
Localização – No meio rural brasileiro, a taxa de analfabetismo é três vezes superior à da população urbana: 28,7% e 9,5%, respectivamente. Os contrastes regionais são bastante acentuados, quando se compara a situação no campo. No Nordeste, o índice é de 40,7%, alcançando 49,2% no Estado do Piauí. A melhor situação está na Região Sul, com 11,9% de analfabetos na área rural. “Apesar de, em números absolutos, o número de pessoas iletradas no campo ser inferior ao das cidades, as taxas indicam uma situação grave que necessita de uma política específica”, afirma José Marcelino de Rezende Pinto, diretor de Tratamento e Disseminação de Informações Educacionais do Inep .
Erradicação do analfabetismo exigiria 200 mil alfabetizadores
O Brasil possui cerca de 49 mil professores atuando no primeiro ciclo do ensino fundamental na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), cerca de 800 mil no primeiro ciclo do Ensino Fundamental Regular e mais de 700 mil no segundo ciclo do Ensino Fundamental Regular.
Segundo o estudo, um programa de alfabetização que trabalhasse com um ciclo semestral – prazo em que alfabetizaria e deixaria o educando atendido em condições de reingressar nos sistemas de ensino – e que tivesse por meta erradicar o analfabetismo em quatro anos exigiria cerca de 200 mil alfabetizadores. “Trata-se um número, embora avantajado, absolutamente realista, em especial considerando que as matrículas de 1ª a 4ª série no Ensino Fundamental estão em queda no país, liberando salas e docentes.”
Ao considerar a erradicação do analfabetismo como meta factível, os autores lembram a necessidade de um grande esforço nacional, a exemplo do que ocorreu em outros países. Uma ressalva, no entanto, é feita no que diz respeito à qualidade dos programas voltados à alfabetização de jovens e adultos e nas várias tentativas já realizadas no País. “O que faltou muitas vezes foram programas de qualidade, claramente delineados para seus diferentes perfis, e com o nível de profissionalização que se espera de qualquer atividade. Nesta área, improvisação geralmente redunda em fracasso”, finaliza.