CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO 10 de dezembro de 2008.
Clássicos em quadrinhos
Versões de romances em formato de gibi ganham status de atraentes livros didáticos.
HQ EM CAPA DURA Arnaldo Branco seguiu o conselho de Nelson Rodrigues ao adaptar O beijo no asfalto: seja burro. Jubiabá, de Jorge Amado, terá versão de Spacca. Assinada por Moon e Bá, O alienista ganhou o Prêmio Jabuti de livro didático.
Nada há de errado ao se encontrar, em alguma livraria, um gibi na estante de literatura. Seguindo uma tendência internacional, as editoras brasileiras começam a investir na transposição de clássicos para os quadrinhos. Machado de Assis, Lima Barreto, Eça de Queiroz e Jorge Amado são alguns dos autores que já tiveram obras adaptadas. Em países como EUA, França e Itália, esse filão editorial já está estabilizado. No Brasil, o aquecimento aumenta, agora, com a inédita inclusão de 23 títulos na lista de compras do Ministério da Educação para o ensino médio, através do Programa Nacional Biblioteca na Escola de 2009, que distribui livros para a rede pública. O objetivo é facilitar o acesso da juventude a obras de referência, explica Marcelo Soares Pereira da Silva, diretor de políticas de formação, materiais didáticos e tecnologias para a educação básica do MEC.
Além do óbvio apelo visual, os quadrinhos facilitam a compreensão do conteúdo, sem esvaziar a história. Não é resumo, diz Silva. De tão bem-feita, uma das obras selecionadas pelo programa (O alienista, de Machado de Assis) ganhou em setembro o Prêmio Jabuti, um dos mais prestigiados da literatura nacional, na categoria didático, paradidático e ensino fundamental ou médio. A adaptação que Fábio Moon e Gabriel Bá fizeram dessa obra inaugurou a coleção Grandes Clássicos em Graphic Novels, da editora Agir. Em 2009, serão publicadas versões de Os sertões, de Euclides da Cunha, e O pagador de promessas, de Dias Gomes, entre outras. O maior desafio foi transformar a narração em diálogo, mas mudando pouco o que está escrito, diz Moon. Ou sem mudar nada, como fizeram Arnaldo Branco e Gabriel Goés com O beijo no asfalto, de Nelson Rodrigues.
Segui um conselho que ele dava aos diretores que montavam suas peças: sejam burros. Por isso não tentei inventar, diz Branco. Mas a fidelidade ao texto não impede certa dose de criação. O cartunista Spacca, que finaliza uma adaptação de Jubiabá, acrescentou informações ao romance de Jorge Amado. O livro não cita datas, mas tomei a publicação de 1935 como referência para uma cronologia, diz ele. A intenção não é substituir o livro original. Bons quadrinhos também são insubstituíveis, argumenta o escritor Moacy Cirne, um dos maiores especialistas dessa arte no Brasil. Há estantes para todos.
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