Para reduzir o índice de roubos nos arredores dos colégios e planejar ações preventivas, Secretaria de Segurança pretende implementar um sistema de registro de ocorrências dentro das unidades de ensino
Da equipe do Correio
Marcelo FerreiraCBD.A Press - 121108
Segundo levantamento realizado pela reportagem, em 2008 houve pelo menos 45 assaltos a estudantes perto de unidades de ensino
A Secretaria de Segurança Pública quer aproximar as estatísticas oficiais da realidade do ambiente escolar. Para tanto, estuda criar um sistema de registro de ocorrências nas próprias unidades de ensino. A ideia surgiu depois que o Correio revelou, em reportagens publicadas em setembro e novembro do ano passado, a atmosfera de insegurança nos arredores de colégios do Plano Piloto. Alunos são assaltados com frequência, inclusive à mão armada, e os casos não chegam à polícia. “Se não aparece para a gente, é uma falha nossa. Os assaltos estão acontecendo e por algum motivo não estão sendo levados ao conhecimento da delegacia”, reconheceu o secretário de Segurança, Valmir Lemos.
A proposta, ainda em fase de elaboração, foi apresentada pelo secretário antes do recesso de fim de ano, em reunião a portas fechadas que durou quase três horas, entre representantes do Ministério Público, Secretaria de Educação, escolas particulares e polícias Civil e Militar. Cada um ficou de pensar em sugestões para aprimorar a ideia. O grupo voltará a debater o assunto ainda este mês. O governo espera implantar o sistema neste primeiro semestre letivo e começar, de maneira experimental, pelas escolas do Plano Piloto.
Se o plano vingar, os estudantes não precisarão necessariamente ir à delegacia para registrar ocorrências. Poderão, na própria escola, relatar o que aconteceu e, assim, abastecer um banco de dados ao qual o governo terá acesso. O registro será feito em formulários padronizados que serão distribuídos para todas as escolas públicas e particulares do Distrito Federal. O aluno vítima de qualquer tipo de crime — não somente assaltos —, na escola ou nas proximidades dela deverá informar data, hora e local do ocorrido e descrever resumidamente o episódio.
O documento precisará ser assinado pelos pais ou responsáveis pela vítima. Quando receber algum formulário preenchido, a direção da escola comunicará a Secretaria de Segurança. A intenção é, com o tempo, adaptar o sistema ao formato eletrônico, para tornar o procedimento mais ágil. “Não serão informações 100% oficiais, mas elas nos ajudarão a direcionar ações públicas. Precisamos saber o que está acontecendo para prestar um bom serviço”, destacou Lemos.
Fim da ficção O promotor Rubin Lemos, coordenador do grupo de apoio à segurança escolar do Ministério Público do DF, participou da reunião no fim do ano e gostou da proposta. “A polícia poderá trabalhar com dados reais, e não imaginários. Hoje é tudo no ‘chutômetro’, as estatísticas oficiais não são nada confiáveis”, sustentou. A implantação do sistema, de acordo com o secretário de Segurança, não minimizará a importância do registro tradicional. As vítimas de crimes no ambiente escolar continuarão orientadas a também procurar as delegacias. A Polícia Militar não quis comentar a proposta.
Também envolvido no debate, o subsecretário de Desenvolvimento do Sistema de Ensino da Secretaria de Educação, Atílio Mazzoleni, avaliou que o registro nos colégios será mais uma forma de a comunidade poder ajudar o governo a resolver o problema da insegurança. “Às vezes algum fato chega à mídia antes mesmo de a polícia saber. As pessoas precisam entender que é preciso informar as autoridades sobre o que acontece”, defendeu.
A presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe-DF), Amábile Passos, elogiou o fato de o Estado ter percebido conceitualmente a importância de resguardar os estudantes: “Finalmente as escolas particulares terão acesso a uma política de segurança pública”.
Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.