Episódio 7

 

Este episódio foi relatado por uma professora do Projovem (Programa de Inclusão Social de Jovens de 18 a 24 anos).

Ela relata que começou as aulas do trimestre com uma revisão (proposta pelo livro) do alfabeto e, nessa revisão, pôde perceber que muitos alunos conheciam as letras, porém alguns não sabiam a ordem das mesmas. Outros, não sabiam informar quantas letras formavam o alfabeto da nossa língua. E outros, ainda, não sabiam diferenciar os tipos de letras, isto é, achavam que podiam começar a escrever com letra de imprensa e, logo depois, misturá-la com a letra cursiva.

(Episódio relatado por Marli Vieira Lins)

 

Esse é um dado preocupante, pois os alunos que freqüentam o Projovem, de alguma forma, já passaram pela escola regular ou até mesmo pelo supletivo. Se eles já tiveram uma experiência educacional e estão no programa com a finalidade de concluir o ensino fundamental, como podem não conhecer plenamente o alfabeto da nossa língua?

Se o aluno não reconhece o alfabeto, como poderá ler, entender e fazer uso social dos conhecimentos que possui? Diante dessa realidade, é de suma relevância que exista um esforço conjunto entre professor-aluno-sociedade no sentido de diminuir a distância existente entre um aluno alfabetizado e um aluno letrado.

Considerando-se a realidade das escolas brasileiras, principalmente das públicas, e os resultados de pesquisas realizadas por alguns estudiosos da língua, é possível observar que grande parte dos nossos alunos é somente alfabetizada, isto é, apenas conhecem as letras, codificam e decodificam as palavras, mas não conseguem, muitas vezes, ir além do que está escrito, ou seja, não conseguem fazer uso social dessa tecnologia, o que faz com que, mesmo sabendo “ler e escrever,” esses cidadãos fiquem à margem da sociedade e tenham poucas chances no mercado de trabalho.

Esse é um problema gravíssimo que nós educadores enfrentamos no dia-a-dia de nossas salas de aula. Refletindo sobre a questão de alfabetizar e letrar, pode-se dar uma enorme gama de exemplos que mostram a distinção entre os conceitos de analfabetismo e analfabetismo funcional.

Episódio 7

O episódio abaixo relata uma experiência em que um cidadão com poucos anos de escolaridade e com dificuldade em lidar com o código escrito da língua, faz uso social da escrita.

Esta carta, eu a recebi de uma professora do curso de Pedagogia. A professora que nos forneceu a carta tinha uma amiga que trabalhava no Palácio do Planalto e recebia todas as cartas que eram endereçadas ao Presidente da República. Ao ler esta, do Município Santana do Araguaia do Estado do Pará,  acabou tirando cópia para seus alunos, preservando o anonimato do remetente. Depois de lermos a carta, ficou claro que mesmo essa pessoa tendo dificuldades em se expressar por meio da escrita, possuía letramento, porque tinha consciência de todos os problemas e necessidades que ocorriam no Município.  (Episódio relatado por Magali Schneider).

Fonte: 01. FH. 023892.C01-6  

Conclusão

O termo analfabetismo funcional, cuja ampla utilização deveu-se à UNESCO, tem sido utilizado para designar a incapacidade de utilizar a leitura e a escrita, além de realizar cálculos básicos, em atividades da vida diária que requerem tais habilidades. Mais recentemente, tem-se preferido trabalhar com o conceito de alfabetismo, tomando-o como fenômeno que comporta diversos graus e dimensões. Nesse contexto, têm sido envidados esforços para o estabelecimento de conjuntos de tarefas socialmente relevantes em que se utiliza material escrito, para, a partir deles, dimensionar e analisar graus e tipos de alfabetismo que caracterizam pessoas ou grupos. Por fim, vale destacar que, independentemente da diferença conceitual entre analfabetismo e analfabetismo funcional, é indiscutível o fato de que a alfabetização é uma necessidade para todos os indivíduos que integram sociedades modernas, provendo-lhes meios de desempenhar várias atividades associadas ao trabalho ou ao âmbito doméstico, meios de melhorar o exercício efetivo de direitos e de responsabilidades de cidadania. O valor do acesso à leitura e à escrita, ademais, está no fato de esses serem meios para se aprender outras habilidades, ampliando a autonomia das pessoas com relação ao auto-aprendizado e à educação continuada.

Referências bibliográficas

 

CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e letrar: um diálogo entre teoria e prática. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

FERNANDES-SOUSA, Maria Alice. Alfabetização de jovens e adultos no Brasil: origem e trajetória ao longo de cinco séculos (no prelo).

FERRARO, Alceu Ravanello. História quantitativa da alfabetização no Brasil. In: RIBEIRO, V. M. (Org.) O letramento no Brasil: reflexões a partir do INAF 2001. São Paulo: Global, 2004.

FREIRE, Paulo. Ação cultural para a prática da liberdade e outros escritos. São Paulo: Paz e Terra, 2001.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 10. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

INEP. Mapa do analfabetismo no Brasil. Disponível em: <http:www.inep.gov.brestatisticasanalfabetismo> . Acesso em 280906.

IOSCHPE, Gustavo. A opção pelo desenvolvimento. Disponível em: <http:www.ipm.org.bran_bol.php?versao=por&edicao=inaf_001>. Acesso em 28 de set. de 2006.

RIBEIRO, V. M. Indicadores do analfabetismo: os censos populacionais. Disponível em: <http:www.ipm.org.bran_bib_view.php?qp=Indicadores%20de%20analfabetismo> Acesso em 280906.

RIBEIRO, Vera Masagão (Org.). Letramento no Brasil: reflexões a partir do INAF 2001. São Paulo: Global, 2003.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e alfabetização. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2004.

UNESCO.  Alfabetização como Liberdade. Brasília: UNESCO, MEC, 2003.

 

 

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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