O grande pensador da web prevê um ciberespaço mais “inteligente”, com linguagens e tecnologias que “não conseguimos entender hoje”
Por: Felipe Polydoro Redação de AMANHÃ
Uma platéia de executivos, publicitários, programadores de software e acadêmicos constatou, nesta segunda (24), no V Fórum de Internet Corporativa, por que o filósofo e pensador do ciberespaço Pierre Levy costuma ser qualificado como um otimista incorrigível na análise das novas tecnologias. Destaque do evento promovido pela Agência Gaúcha de Agências de Internet (AGADi), na PUCRS, Levy é um dos principais teóricos da internet no mundo. Já no início dos anos 90, publicava obras hoje obrigatórias para quem estuda de forma mais profunda e consistente o fenômeno do ciberespaço.
Desde os primeiros livros, a acusação contra Levy é a mesma: excesso de otimismo em relação às novas tecnologias. Na opinião dos seus críticos, o teórico sempre exagerou na dose ao prognosticar os benefícios da tecnologia para a sociedade. Ao criar o conceito de inteligência coletiva, Levy viu na rede mundial de computadores um espaço de aceleração da criação de conhecimento, um ambiente em que internautas livres, independentes das grandes corporações e das instituições tradicionais, poderiam produzir conhecimento e tecnologia. A internet aumenta as nossas capacidades cognitivas, tanto individuais quanto coletivas, disse Levy em uma palestra falada em um francês fácil, segundo o próprio filósofo.
De certa forma, todas as iniciativas de conteúdo colaborativo materializam o conceito de inteligência coletiva, a começar pelo Wikipedia. Os detratores, no entanto, sempre acusaram Levy de ignorar o fato de que a internet é também um imenso lixão, repleto de informações inúteis e de baixa qualidade (sem mencionar a pornografia).
O próprio Levy admite não saber exatamente como será essa nova língua. O que ele consegue dar são pistas. Para o filósofo - prepare-se que a coisa é abstrata -, o caminho é a codificação de ideias. Conceitos e ideias que se disseminam na cultura contemporânea futuramente vão virar códigos manipuláveis por computadores. Não podemos entender muito bem hoje essas novas linguagens. Nunca tivemos experiência com nada parecido. Mas se você fosse explicar para alguém do século XIX o que seria a internet, essa pessoa também não conseguiria entender.
Levy apressa-se em avisar que as linguagens mencionadas vão muito além daquilo que, na informática, está se chamando de web semântica - novas tecnologias que permitirão às máquinas entender mais precisamente o sentido dos dados e conectá-los melhor. O que, na prática, representará um passo gigantesco na qualidade da navegação e dos serviços oferecidos na rede.
Levy visualiza um ciberespaço em que será possível simular e representar a inteligência coletiva humana tal qual ela se desenvolve na sociedade offline. Quando isso acontecer, a inteligência coletiva online será o grande motor do desenvolvimento humano. Mais do que isso: quando o mundo intelectual humano for transposto para dentro da web, será possível compreender, afinal de contas, como exatamente funciona a difusão de ideias e a construção de conhecimento nas sociedades. Uma coisa Levy dá como certo: nada disso vai começar a aparecer antes de 2015.
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Na palestra desta segunda, Levy apresentou uma previsão do futuro do ciberespaço. Já no livro As Tecnologias da Inteligência, de 1990, o filósofo argumentava que a informática representava, para a linguagem humana, uma revolução comparável ao surgimento da escrita. A toada segue a mesma. Levy acredita que caminhamos para uma nova linguagem dentro da rede. Qual a maior limitação hoje para a inteligência coletiva? São as línguas. Mesmo com os tradutores automáticos, muitas pessoas não conseguem se comunicar na web, disse.